sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

VIII – Tedesco


Foram palavras da própria Nicole: “uma visitinha de médico” à casa sua mãe em Enseada. Como profissional da Moda, alegou que não podia se dar ao luxo de tirar férias época alguma, menos ainda no verão. Nick havia se mudado para Desiderata alguns meses depois de Léo. Neto, seu namorado, joga na posição de goleiro e assinou contrato com o mesmo time que levara Pedro. Ela se transferiu junto com seu amor.




– Cadê a minha sobrinha mais linda de todas? – tia Débora perguntou abrindo a porta para entrarmos.
– Aqui! – respondeu Ariel abrindo os braços em direção a ela.
– Ah! Também quero um abraço desses! – exclamou Nicole atrás das duas. E é claro que a baixinha atendeu prontamente.




Repetiu o gesto com Neto, e depois correu por dentro da casa para a porta do quintal, a fim de encontrar Chaplin, o beagle mimado de minha tia, da mesma idade dela. Eu dei um longo e caloroso abraço em minha prima.
– Ah, Nick! Quanta saudade! Uma pena que vá ficar tão pouco tempo!
– Deixei meu atelier de qualquer jeito, Yuri... Estou com minha agenda lotada de feiras e eventos que não posso deixar de ir.




– É... E ela ainda consegue viajar mais do que eu! – observou Neto, mas não era em tom de queixa. Pelo contrário, era de pura admiração.
Eu tiro o chapéu para esse casal tão equilibrado. Há tanto tempo juntos e ainda apaixonados. Claro que devia haver desentendimentos, mas nunca soube de uma briga séria, e ainda hoje trocavam olhares desejosos, típicos de casais em lua de mel.
– Ei, que tal entrarmos e continuar essa conversa na sala enquanto esperamos pelo almoço, hã? – convidou tia Débora. 




Matamos a saudade e colocamos o papo em dia enquanto Ariel brincava com Chaplin no tapete. Tia Débora sempre me acolheu com muito carinho e eu volta e meia me pergunto de que forma poderia haver dois irmãos tão diferentes como ela e meu pai. Não era possível que fosse só pelo fato de terem nascidos em décadas diferentes.




A campainha tocou e Ariel correu para atender. Eu já sabia quem era antes mesmo da baixinha exclamar “Vovô!” e prontamente se pendurar em seu pescoço. Tia Débora me encorajou.
– É só um almoço...
– É, eu sei...





Desde que me entendo por gente, meu relacionamento com meu pai sempre foi problemático. Sinto que falhei com ele a minha vida inteira e mesmo hoje, aos trinta e dois anos, sei que nunca chegarei perto de ser o homem que ele desejava que eu fosse. Não que eu não tenha me esforçado. Durante muito tempo tudo que eu fazia era em prol de buscar uma aceitação que nunca veio. Segundo ele, eu desisti muito fácil.




– Como você pode estar cada dia mais bonita, hein? – Ele perguntou levantando a neta em seu colo.
– Puxei meu avozinho! – preciso me lembrar de incentivar Ariel a tentar a carreira política quando crescer. Fato. – Ei vovô, sabia que ensinei o Chaplin a rolar e fingir de morto?
– Hum! Que interessante! Será que você consegue fazer minha cacatua cantar?
– Claro vovô!
– Ótimo! Vou te pagar pra dar aulas de canto pra ela então!




– Oba!
– Você não precisa pagá-la, tenho certeza que Ariel fará com todo prazer. – Avisei.
– Ah, Yuri, Yuri... Sempre caridoso e idealista! Ter contato com dinheiro não vai estragar sua filha. Deixe a menina ter um pouco de ambição! Não faz mal a ninguém.
Ele nunca perde a oportunidade de me alfinetar. Eu que sempre dou uma de idiota. Calei-me como de costume, desta vez com a desculpa de não querer estragar aquele almoço. Até porque, ele estava ali muito mais pela Nicole. Quanto a Ariel, agora já a via com bastante frequência. 




Nem sempre havia sido assim. Como em tudo, Ernesto Tedesco não aprovou a profissão que escolhi, menos ainda a minha união com Sônia. Deixei para trás minha casa e meus pais após uma briga muito feia, quando verbalizei que não seria mais um advogado a encabeçar o tão afamado escritório dos Tedesco. Armado de sua ira, o velho profetizou meu fracasso como homem e como profissional.




Senti por minha mãe. Meu contato com ela se restringiu aos poucos telefonemas que conseguia me fazer quando ele não estava por perto. Apenas quando Ariel nasceu ela tomou coragem e o enfrentou, alegando que ela e a neta nada tinham a ver com a intolerância de dois marmanjos. Algum tempo depois, mamãe foi diagnosticada com um tipo raro e agressivo de câncer.




Acabou falecendo antes da baixinha completar três anos de vida.
Nem todo o dinheiro, nem todo o prestígio dos Tedesco foram capazes de salvá-la. A morte de minha mãe deixou o doutor Ernesto num estado lastimável. Eu nunca o vi tão arrasado, sequer imaginava que meu pai era capaz de amar alguém daquela maneira. 



Por fim, o gesto involuntário da mamãe fez com que meu pai revisse alguns conceitos. Ainda no cemitério, logo após a cremação, ele dirigiu a palavra a mim depois de muitos anos.
– Eu... gostaria de conhecer a menina... – pediu com cerimônia, tentando a todo custo conter as lágrimas teimosas.
– Quando você quiser. – respondi. Quem havia construído o muro era ele. E eu confesso que fui turrão em deixar que ele tivesse o trabalho de derrubá-lo.




– Caramba, você está um trapo! Não está passando nenhuma necessidade, está? – perguntou reparando minha aparência. Difícil. Muito difícil manter um diálogo civilizado com aquele homem. Minha tia lhe deu uma encarada de reprovação.
– O quê?! – insistiu, como se não estivesse sendo inconveniente. – Você sabe que me preocupo. Ainda mais depois que a mulher dele foi embora, afinal era ela quem sustentava aquela casa!




Esse era meu pai. Eu nunca deveria ter me casado com Sônia. E também jamais me divorciado dela. Estava pensando como responder sem ofendê-lo quando Nicole salvou o momento.
– Pelo visto não sentiu falta de mim né, tio?
– Ô, minha querida! Não é verdade! – abriu os braços para recebê-la. – Eu morri de saudades...




Doutor Ernesto pouco falou durante todo o almoço, e como de costume, não se demorou. Ocupado, sempre muito ocupado. Quando terminamos, eu saí para o quintal a fim de tomar um ar e Nicole veio atrás de mim.
– Ufa! Que dureza! – desabafou.
Eu concordei. – Não é?




– Mas eu posso te dizer uma coisa? Tirando a forma grosseira e toda aquela baboseira sobre a Sônia... tio Ernesto tem razão em uma coisa... Você está com o semblante arrasado, Yuri... não merece se tratar desse jeito. É o homem mais bonito que eu conheço, e olha que lido com modelos todos os dias! – Nicole fez uma pausa que me deixou tenso. – Eu... queria te pedir desculpas.
– Pelo quê?




– De certa forma... fui eu quem te colocou nessa! 
– Ah, qual é, Nicole! 
– Eu sei, eu sei... Não era minha intenção que as coisas chegassem onde chegaram... Eu sempre achei que Léo e Pedro foram feitos um para o outro, ao mesmo tempo acreditava que nunca ia acontecer. Desculpe... Apesar de você não falar sobre o assunto, eu sabia que algo não ia bem na sua casa e talvez você estivesse vulnerável. Não devia ter atiçado sua curiosidade, e a Léo é tão... encantadora!



Está aí uma boa palavra para defini-la. Encantadora.
– Não é culpa sua... – suspirei. – Bem... vou catar aquela porquinha. Ela se esfregou tanto no Chaplin que deve estar cheirando a cachorro. Quando é que vocês vão embora?
– Amanhã...
– Já?!
– Ué, eu avisei que era uma visita rápida...




Nós nos despedimos sob protestos chorosos de Ariel. Com ou sem Nicole, ela nunca queria ir embora da casa de tia Débora. Abrimos porta para darmos de cara com Léo e Pedro chegando para uma visita. Cumprimentei os dois com um aceno de cabeça seguido de um “oi, tudo bem?” bastante tímido.




– Ah, papai eu não quero ir! A Léo acabou de chegar, vamos ficar mais um pouco? Por favor, por favor!
– Eu tenho coisas para arrumar em casa, Ariel.
– Como o quê?
Definitivamente eu detestava quando ela me desafiava assim.




– Eu... Nós deixamos ela em casa mais tarde, Yuri... Se não for te atrapalhar... Não é, Pedro? – Léo sugeriu.
– Sim, claro... A gente leva. – Ele respondeu sem expressar nenhuma emoção, contrastando com a alegria estampada no rosto da baixinha.
– Obaaaaaaaaaa!





sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

VII – Rey & Truta

Reinaldo e Trevor são meus amigos de décadas. Reinaldo estudou comigo desde o primário e fizemos o mesmo curso na faculdade. Além disso, foi outro idealizador do Pôr do Sol. No entanto, não estava presente em sua inauguração, pois foi transferido para o exterior a trabalho. Agora estava de volta e ativo no projeto. Rey é casado há 10 anos com Melissa e é também pai de André, que regula em idade com a Ariel.


Já Trevor, juntou-se a nós na UFEB, e sinceramente não há explicação para a nossa amizade, assim como não há explicação para ele ter escolhido o curso de Sociologia. É o tipo de sujeito de quem eu jamais me aproximaria por afinidade, e creio que ele só se aproximou de nós por acreditar ser proveitoso o relacionamento com alunos CDFs. No final descobrimos que atrás da personalidade fanfarrona e cafajeste, se escondia um grande sujeito, capaz de arriscar a vida para salvar um amigo. 


O mais incrível era perceber que ele até hoje não mudara em nada. Nada mesmo, digo desde o comportamento até o corte de cabelo e o cavanhaque.
– E aí, gayzão! Tá sumido, hein, porra! Quem é que tu tá comendo? Porque pra abandonar os amigos desse jeito só pode ser por causa duma bela xo...
– ...RONA! – completou Reynaldo dando-lhe com o ombro. Obviamente ele nem tinha se importado com a presença de Ariel na sala.


– Vocês são normais?! Sério, pai... você tá precisando renovar suas amizades! – Ariel reclamou revirando os olhos e dando meia volta. – Pelo menos fizeram o favor de não trazer o chatinho do Deco desta vez! Té mais!
– Olha, ele te mandou um beijo, viu! – ainda deu tempo de Reynaldo falar antes que ela virasse o corredor e subisse as escadas.


– É só uma fase... – tentei justificar. – Tudo bem com vocês?
– Tudo... Estava tomando uma cerveja com a rapaziada do trabalho quando esse mala apareceu no boteco. – Reinaldo explicou.
– Então! Tá um dia perfeito pra gente galinhar! Viemos te levar para a luz, seu “emo” filho da puta! – Tão gentil!


– Não é nada disso... – Reinaldo bufou. – “Bora” continuar a cerveja ali na praia. Tá um fim de tarde bonito.
– Eu não sei... Estou com Ariel como vocês podem ver...
– Você não tem uma babá?! Tem uma gostosa que toma conta do Deco, como ela se chama, Rey? É um nome esquisito, mas a guria... hummm, é um filé! 
– E tem idade pra ser sua filha! Porra, cara você não muda! – A bronca veio de Reinaldo, que em seguida virou-se para mim. – Acha que Ariel não iria querer vir com a gente?


Acabei convencendo Ariel a levar seus patins para andar no calçadão, enquanto apreciava mais a paisagem do que a conversa. Não pelo Reinaldo, que tinha ainda mais paciência do que eu com o Trevor.
– Sério que você não está mais pegando a Lis, aquela linda? Se importa se eu investir?
Foi Reinaldo quem lhe deu um chute por baixo da mesa.
– Você não tem limites, pelo amor de Deus!


– Não esquenta, playboy... Olha só, tem uma prima minha delicinha que tá chegando da França... Eu só vou apresentar pra você porque tu é devagar que eu sei... Mas a menina é um espetáculo! Imagina ela falando no seu ouvido... “Voulez-vous coucher avec moi, ce soir?” Cara! Mas com todo respeito, hein! – Fingiu seriedade.
– Obrigada, Trevor... Não que eu esteja duvidando das qualidades da sua prima, mas não estou a fim de encarar nenhum relacionamento agora.
– Quem é que falou em relacionamento?! Ele é maluco? – Perguntou para Rey. – Ô doente! Que parte de a menina morar na França você não escutou? Ela vem de férias, vocês saem, se conhecem, se curtem... Depois ela dá tchau! Quer coisa melhor?


– Você jura que não me conhece mesmo depois de todos esses anos, Trevor?
– Porra, manezão! É claro que eu te conheço, caral... – ele não completou ao ver que Ariel passava perto de nós e provavelmente não desejava outro coice de Reinaldo. – Mas é foda ficar acompanhando a decadência de um cara pintoso como você por conta de um amor platônico! Olha bem pro seu aspecto! Que cabelo é esse, “mermão”, se liga! Como se não bastasse, a gata ainda namora um foderosão do futebol... De boa? Shift del, cara!


Após me dar a bronca, Trevor imediatamente mudou de assunto e vítima. 
– Ei, tampinha! Vamos com o tio Truta dar um mergulho antes que o sol desapareça de vez.
– Tampinha é sua avó! – Ariel respondeu parecendo irritada, mesmo assim livrou-se rapidamente dos patins e das roupas que cobriam o biquíni, e desceu pela areia montada nas costas de Trevor que a essa altura também já estava só de sunga.


– O que adianta eu pedir pra minha filha não chamá-lo de Truta, se ele mesmo acha engraçado?
– Você pede porque quer, Yuri, sabe que ele deixa Ariel fazer gato e sapato dele! Quando foi diferente?
– Em matéria de deseducação, Trevor é mesmo imbatível.


– Ei, cara! Sabe que não tenho nada de parecido com esse maluco, mas nesse caso nós precisamos concordar que ele tem razão... Você tá um caco, e eu sei que é por causa dela. Sempre começa um mês antes de ela aparecer, e dura mais outro mês depois que ela vai embora. Aí você até que consegue respirar. 
– Existe uma possibilidade de ela voltar a morar na cidade... – Deixei escapar baixinho. – Ariel está eufórica com a idéia.


Reinaldo suspirou.
– Mais um motivo, cara! Não dá pra viver assim! Você precisa esquecer essa mulher!
– É, isso eu sei. Eu só preciso descobrir como...





sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

VI – Falando Francamente


– Então... por que não deu certo com a Lis?
A pergunta de Léo me pegou de surpresa ao final do almoço. As crianças já tinham levantado para brincar no pequeno parquinho do restaurante, e estávamos apenas esperando o maître trazer a conta. 
– O que quer dizer? – Não é que eu não tivesse entendido a pergunta dela, mas eu precisava de tempo para pensar numa resposta.




– Ah, por favor, Yuri... Nem é preciso tanta sensibilidade pra perceber a tensão naquele encontro. E está estampado na cara dela para qualquer um ver que ela ainda é amarradona em você! Ela é tão... linda! Tem um olhar penetrante... E depois... Você acreditou naquela desculpa de fazer malas para não aceitar o convite pro almoço e sair de fininho? Sério, o que houve? Por que terminou?
– Eu... não estava envolvido o bastante.




A minha resposta foi suficiente para ela entender, apesar das palavras exatas não terem sido ditas. 
– Yuri... eu amo você e a Ariel, não tenho dúvida de que sabe disso. Mas às vezes sinto que eu estou... Quero dizer, a minha presença não está facilitando as coisas pra você. Quem sabe se eu me afastasse de vez...
– Não diga isso, Léo! Não se classifique como um obstáculo que preciso transpor na minha vida, tá legal? – Não era só por mim, eu também não sou tão egoísta. Nem poderia suportar a idéia de afastá-la da baixinha. 




A mão de Léo encontrou a minha sobre a mesa. Não era a primeira vez que isso acontecia, mas sempre era uma grata surpresa. Um momento que eu gostaria de imortalizar. Então, eu fazia do único jeito que podia, guardando na memória.
– Não é fácil para mim também. – confessou. – Mas seria pior se eu não voltasse a te ver mais. Eu... gosto de estar com você.
Eu não queria entrar nesse assunto, era doloroso para mim, e deveria ser incômodo para ela. Como ela conseguia lidar com esse conflito?




Não sei dizer em que momento precisamente eu me apaixonei por Leandra, mas parecia ter sido noutra vida. No início houve um período de não aceitação e durante um bom tempo eu tentei me convencer de que tudo não passava de uma inocente atração entre aluna e professor, algo tão comum. Jurava para mim mesmo que era apenas mais uma pessoa a quem eu precisava ajudar.
A intensidade do meu amor parece até ridícula, se considerarmos os poucos momentos que passamos juntos e o único beijo que trocamos. Também não há explicação para esse arrebatamento resistir tanto ao tempo quanto a distância. Então por quê?





Parei o carro em frente à casa do doutor Olívio. Ariel e Lucas dormiam exaustos no banco de trás, e Léo parecia relutante em abrir a porta.
– Está tudo bem?
– Arram... – inspirou. – Você quer entrar? Sabe que o papai gosta um bocado você, né?




– Eu também gosto muito do doutor Olívio e agradeço Léo, mas hoje não... outro dia, pode ser? 
– Se é por causa do Pedro, o carro dele não está aí, ele ainda não voltou.
– Eu não quero acordar a Ariel. Dê um alô ao seu pai, e um beijo em Dora. Noutra oportunidade venho apreciar seu café com bolinhos de chuva.




Eu a acompanhei com o olhar enquanto ela entrava em casa carregando Lucas, e me perguntava como seriam as coisas se eu tivesse agido diferente. Se eu tivesse enfrentado o fracasso do meu casamento antes de conhecê-la. Se eu tivesse assumido minha paixão no primeiro aviso. Se eu tivesse pedido exoneração do meu cargo de professor e tentado conquistar o coração daquela que já era dona do meu? Virei a chave na ignição e parti. Eu nunca teria resposta para aquelas perguntas.




Carreguei Ariel no colo até seu quarto, mas tive que acordá-la para entrar no banho e se trocar. Não poderia colocá-la na cama, imunda do jeito que estava.
– Ei! Baixinha, acorda! Você tá precisando de um banho!
– Tá bom, paaaaaaai! – respondeu sem abrir os olhos.
– To falando sério, filhota... Já enchi a banheira pra você, ok?




Coloquei-a sentada semi-adormecida em cima da privada e morri de pena. Mas não havia outro jeito.
– Paaaaaaaaaaai? – ela me chamou esfregando os olhos, preguiçosa. – Cadê a Léo?
– Deixamos ela e o Lucas em casa...
– Porque não chamou ela pra vir pra cá? Nem tá de noite ainda...
– Não tá, mas você e o Lucas estavam dormindo, ela também devia estar cansada...




Ariel despertou de repente e se colocou de pé.
– Eu não sei de onde você tira essas conclusões! Você por acaso perguntou?
– Existem coisas que não precisam ser faladas! Aliás, já que tocou nesse assunto, precisamos ter uma conversa, mocinha! 
– Aí, ferrou! Se você começou já me chamando de mocinha... Eu não acho que vá gostar dessa conversa!





– Ariel, o que você fez hoje foi muito feio! Não pode constranger as pessoas dessa maneira!
– Mas eu não fiz nada! 
– É claro que você fez! Desde o início, quando sugeriu irmos ao Pôr do Sol, sua intenção foi causar ciúmes na Léo! E com isso, acabou colocando a ela e a Lis numa situação desagradável! Não passou pela sua cabeça que você pode ter magoado a Lis?




– Acho que até a Lis sabe que você gosta da Léo, pai! Se é mentira, porque não namora mais ela?
– Isso não é assunto pra alguém da sua idade! Você não entende! As coisas não acontecem só porque a gente quer, Ariel! 
– Então me ensina! Como é que se faz pro que a gente deseja virar realidade? Por que com certeza não é pedindo pra fada azul!




– Não devemos desejar mais do que o que podemos ter. 
– E quem é que decide o que podemos ou não?! Eu quero falar com algum superior, não sei se estou de acordo com essa lista!
Eu suspirei. Aquela discussão não ia levar a lugar nenhum.
– Vou deixar as coisas mais claras pra você, mocinha! A próxima vez que minha intuição avisar que você está aprontando, eu cancelo os compromissos e ficamos em casa fazendo palavras cruzadas, estamos entendidos? Agora, já pro banho, sua porquinha!




Deixei Ariel em sua banheira, enchi a minha com água morna e espuma e relaxei. Escutei o som da campainha e agradeci ao ouvir Ariel gritando do corredor “Eu atendo!”. Não tinha a intenção de interromper aquele banho por nada nesse mundo. Ficaria ali até minha pele enrugar. 




Não me foi permitido. Ariel invadiu o banheiro sem bater.
– É o tio Rey e o tio Truta! – Ela fez uma careta ao mencionar o segundo nome.
– Já te pedi pra não chamar o Trevor assim.
– Não tenho culpa se ele é caozeiro e combina com esse apelido.
Eu me perguntei onde é que ela aprendia essas coisas.